Para montar a lista dos melhores filmes do ano passado, vou adotar um procedimento diferente. Na verdade, não vai haver uma lista, mas duas. Na primeira, vou colocar os filmes que foram lançados especificamente no Brasil entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2018. Já na segunda, vou colocar filmes que foram lançados mundo afora dentro desse mesmo período, mesmo que não tenham chegado ao Brasil até a data limite. Assim, posso contemplar filmes que só passaram em festivais, ou que demoraram para chegar ao país. Vamos lá.
Primeira lista – filmes lançados em 2018, mesmo que não tenham chegado comercialmente no Brasil durante o ano
10. Aniquilação (Annihilation, Alex Garland) – Lançado mundialmente através da Netflix, ao invés de estrear nos cinemas, Aniquilação é um dos precursores do que pode vir a ser uma tendência. Por outro lado, isso talvez tenha impedido que o filme viesse a receber a atenção que merece. Visualmente espetacular e contando com trama interessante, a obra de Garland impressiona do início ao fim. Talvez o que mais subtraia sejam os personagens secundários, cujo desenvolvimento deficiente diminui o impacto de algumas cenas chave.
09. O Primeiro Homem (First Man, Damien Chazelle) – Mais uma parceria de Chazelle e Ryan Gosling (que trabalharam juntos em La La Land), O Primeiro Homem é o típico “filme de Oscar”, tanto em estrutura quanto em atmosfera. Dentre esses filmes, entretanto, faz muito bem seu papel. O destaque vai para a atuação de Claire Foy, interpretando Janet Armstrong, esposa do primeiro homem a pisar na Lua, Neil Armstrong.
08. Upgrade (sem título no Brasil, Leigh Whannell) – Passado em um futuro no estilo cyberpunk, Upgrade narra a história de um homem que fica tetraplégico em um assalto no qual sua mulher é assassinada. Ele recebe um implante cerebral que não apenas permite a ele recuperar os movimentos, como lhe dá capacidade sobre-humana no uso do corpo. Ele, então, passa a investigar o assassinato da esposa usando suas novas habilidades. Upgrade tem algumas das melhores cenas de luta dos últimos anos, cujo impacto é aumentado pela bela atuação de Logan Marshall-Green. Altamente recomendado.
07. Não Deixe Rastros (Leave no Trace, Debra Granik) – Um belo drama familiar sobre um pai e sua filha, que está entrando na adolescência. A bela fotografia é praticamente um personagem da trama, às vezes sendo aliada, às vezes antagonista. O final é facilmente um dos melhores do ano.
06. Pantera Negra (Black Panther, Ryan Coogler) – Um dos mais consistentes filmes de super-herói da história, Pantera Negra conta com um protagonista de alto nível, e com um vilão ainda melhor. A trama, bem mais coesa do que a média de seus pares, combinada com a excelente caracterização visual do país ficcional Wakanda, coloca o filme de Coogler entre os filmes da Marvel que têm identidade própria, junto com Capitão América 2: O Soldado Invernal, Doutor Estranho e Thor: Ragnarok.
05. Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman, Spike Lee) – Depois de anos passados nas sombras, Spike Lee volta à luz dos holofotes com o divertidíssimo Infiltrado na Klan, que narra a história real de um policial negro que consegue se tornar membro da Ku Kux Klan, a famosa organização terrorista norte-americana. A mistura constante da seriedade de um filme policial com o humor derivado da bizarrice da situação leva a algumas boas gargalhadas. O final resume bem o teor da história, ao mesmo tempo concluindo a trama e deixando a mensagem de que os problemas continuam existindo.
04. Buscando… (Searching, Aneesh Chaganty) – Filmagens em câmeras de notebooks e de smartphones integraram-se ao nosso cotidiano, e Buscando… se propõe a representar isso narrando quase inteiramente através de chamadas de vídeo a história de um pai cuja filha desaparece. Tentar é bom, porém não basta. O mérito de Buscando… é que ele abraça o desafio e consegue vencê-lo. O ritmo é preciso, mantém o interesse do início ao fim, e de forma alguma o desenvolvimento dos personagens fica prejudicado. É obrigatório ressaltar mais uma ótima atuação de John Cho, cujo talento já deveria estar sendo reconhecido.
03. Bohemian Rhapsody: A História de Freddie Mercury (Bohemian Rhapsody, Bryan Singer) – Desde que dirigiu X-Men, em 2000, Bryan Singer filmou apenas um filme de temática realista (o drama de guerra Operação Valquíria). E que bom que ele voltou a experimentar o mundo das pessoas que não voam, porque ele criou um filme sensacional com Bohemian Rhapsody. Muito se fala, e com justiça, da interpretação de Mercury pelo ator Rami Malek. Mas a direção de Singer é o que permite que não apenas Malek, mas todo o elenco, brilhe. As cenas de show fazem jus à reputação do Queen, no sentido de que são espetaculares.
02. Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, John Krasinski) – Mais ousado ainda que Buscando…, Um Lugar Silencioso torna o som algo a ser temido. A intensidade de cada cena, seja pelo medo das criaturas, seja pela dor que a família não consegue expressar, garante uma das melhores experiências cinematográficas do ano. Se alguém tivesse me dito tempos atrás que eu em breve estaria colocando John Krasinski como um dos melhores diretores, eu não levaria a sério. Mas aí está: o trabalho dele, tanto na frente quanto atrás das câmeras, é da melhor qualidade.
01. Roma (idem, Alfonso Cuarón) – Para falar a verdade, tanto Bohemian Rhapsody como Um Lugar Silencioso poderiam ocupar o topo da lista e seria justo. Acabei optando por Roma pela humanidade que ele confere às personagens. A fotografia é magnífica, a trama tem bom ritmo, mas o diferencial mesmo é a dedicação do texto a desenvolver as pessoas que estão sendo mostradas. O clímax da trama ocorre pouco antes do final, em uma cena que só não emociona quem já está morto por dentro. E se a lista começou com um filme distribuído pela Netflix, termina com outro. Sorte de principiante ou início de uma era? O tempo dirá.
Segunda lista: filmes lançados comercialmente no Brasil em 2018. No caso de filmes que já apareceram na primeira lista, não vou repetir os comentários, obviamente.
10. As Boas Maneiras (idem, Marco Dutra e Juliana Rojas) – Um dos melhores filmes lançados no país ano passado é nacional, e é uma fantasia com pitadas de terror. “Filme brasileiro de fantasia e terror” é uma forma indireta de dizer que é um filme que ninguém viu, infelizmente. A obra de Dutra e Rojas olha para os laços que unem as pessoas, e as coisas boas e ruins que vêm desses laços. Às vezes sensível, às vezes tenso, mas sempre humano, As Boas Maneiras vale cada segundo.
09. Eu, Tonya (I, Tonya, Craig Gillespie) – Dinâmico, divertido e inclemente em sua visão sobre a humanidade, Eu, Tonya conta a história de Tonya Harding, ex-patinadora, envolvida em um dos maiores escândalos do esporte. A edição é a chave do filme, tornando-o diferenciado de tantas outros filmes biográficos. Contribui ainda a abordagem baseada em entrevistas dadas pelos personagens ao longo dos anos. Por fim, as atuações magistrais de Allison Janney e Margot Robbie coroam a obra.
08. A Forma da Água (The Shape of Water, Guillermo del Toro) – Grande vencedor do último Oscar, A Forma da Água parece ter sido reconhecido pelos motivos errados. A trama, que se passa nos anos 1960, adota as fórmulas e maneirismos de filmes maniqueístas da época. As mensagens sócio-políticas que o filme tenta passar são superficiais. Mas os méritos técnicos estão todos lá: edição, fotografia, design de produção, efeitos, tudo é de qualidade. As atuações também são de alto nível. Discordo do Oscar, mas sem dúvida é um belo exemplo de cinema.
07. Pantera Negra
06. Infiltrado na Klan
05. Buscando…
04. Bohemian Rhapsody
03. Um Lugar Silencioso
02. Roma
01. Três Anúncios para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, Martin McDonagh) – Quem viu Na Mira do Chefe (In Bruges) sabe que McDonagh consegue contar histórias divertidas. E, por mais pesado que seja o tema de Três Anúncios…, há um clima constante de comédia absurda. Cada personagem é definido pelos seus profundos defeitos, que acabam por ser aquilo que os une. Entre risos e nós no estômago, o certo é que Três Anúncios… é uma montanha-russa no escuro, em que só percebemos em cima da hora quando algo surpreendente vai acontecer. E o cinema existe para isso, surpreender, desafiar e emocionar.
Cabem ainda menções honrosas a A Ganha-Pão, Eighth Grade, Guerra Fria, Jogador Nº 1, Sem Amor e Viva – A Vida é uma Festa.
A título de informação, seguem os demais filmes do período a que eu assisti:
A Barraca do Beijo
A Grande Jogada
A Noite do Jogo
Aquaman
Artista do Desastre
Bird Box
Círculo de Fogo – A Revolta
Day of the Dead: Bloodline
Deadpool 2
O Destino de uma Nação
Em Pedaços
Han Solo: Uma História Star Wars
Hereditário
Homem-Formiga e a Vespa
O Insulto
Jumanji – Bem-vindo à Selva
Jurassic World – Reino Ameaçado
Knuckleball
Lady Bird – A Hora de Voar
Mamma Mia! Lá vamos nós de novo
Mandy
Me Chame pelo seu Nome
Medo Profundo
Megatubarão
Meu ex é um espião
Missão Impossível – Efeito Fallout
Mudbound – Lágrimas sobre o Missisipi
No Coração da Escuridão
Noite de Lobos
Olhos Famintos 3
Operação Red Sparrow
O Paradoxo Cloverfield
Patient Zero
O Plano Imperfeito
O Predador
Projeto Flórida
O Protetor 2
Próxima Parada: Apocalipse
Quando nos conhecemos
O Retorno de Mary Poppins
O Sacrifício do Cervo Sagrado
Somente o mar sabe
Te peguei!
Teu Mundo não Cabe nos Meus Olhos
O Touro Ferdinando
The Post – A Guerra Secreta
The Square – A Arte da Discórdia
The Witch Files
Todo o Dinheiro do Mundo
Trama Fantasma
Venom
Vingadores – Guerra Infinita