Algumas semanas atrás anunciei aqui a estreia iminente da minisérie inglesa Dead Set, que foi exibida pelo canal Multishow. Recapitulando brevemente, na noite do paredão do Big Brother inglês, uma epidêmia transforma a população em zumbis. Os participantes do programa, isolados, não sabem que o mundo ao seu redor está acabando. Na semana passada foi exibido o último dos cinco episódios, e agora é a hora de fazer o balanço final. O texto a seguir contém spoilers que contam quase tudo, portanto se você não viu e não quer estragar as surpresas, melhor parar por aqui.
A personagem principal não é nenhum dos “brothers“, mas sim uma das assistentes do programa, que vê através das câmeras que a casa continua segura, e consegue chegar até lá e contar aos participantes o que se passou. É claro que eles não acreditam, até que um zumbi entra na casa, e tudo muda de figura. Alias, dentre as obras recentes, creio ser esta a que melhor explora a reação à notícia de que zumbis invadiram o mundo, provavelmente porque os personagens (não todos, mas a maioria) não têm nenhum brilhantismo intelectual. São seres humanos médios, e reajem com incredulidade e incapacidade de lidar com o novo staus quo.
Um outro fator positivo em Dead Set é a construção da tensão. Isso se deve, em parte, ao fato de que não há muitas concessões ao lugar comum. Um dos personagens que é apontado como preferido do público do Big Brother é morto logo no segundo episódio. A mocinha confessa no início do primeiro episódio que traiu o namorado. Isso sem contar a crueza dos eventos que acontecem na salinha onde o produtor do programa e a última eliminada se refugiam. Com tudo isso, o espectador não recebe salvo conduto para aliviar a tensão nos momentos chave. Qualquer um pode morrer, simples assim. E todos morrem.
O que me leva ao episódio final. Uma crítica que poderia ser feita ao encerramento do programa é que ele é frenético demais. Tudo acontece em um ritmo tal que perder um pequeno trecho significa encontrar uma situação bem diferente daquela em que se tinha parado. Mas isso é o de menos, porque mesmo o ritmo desenfreado não estraga a tensão sufocante. O destaque, entretanto, é a jogada que o programa faz com a própria televisão: nos momentos derradeiros, os personagens se comportam como os animais enjaulados que inspiraram o conceito do programa Big Brother. Dividem-se em grupos, tramam a eliminação alheia, abdicam de seus escrúpulos. E a informação é usada para manipular, bem ao estilo do conceito imortalizado por George Orwell. Impagáveis são as cenas em que o produtor e a assistente, cada um com seus motivos, fazem uso das coisas que viram pelas câmeras do programa. A mensagem é clara: quando poderia se beneficiar ao máximo da união, o ser humano destrói a si mesmo. Nada mais natural, sendo assim, que todos os personagens, sem exceção, acabem mortos, como eu havia mencionado anteriormente.
Não menos impagável que os momentos já citados é o diálogo final, em que um participante está na sala de controle do programa – já mordido por um zumbi – e a assistente está presa no confessionário – cercado por zumbis. Os papéis se invertem, a última representante da mídia está sob escrutínio do “público”. Eles são os últimos sobreviventes, e ambos sabem que é o fim. Ela diz: “isso significa que você é o vencedor do Big Brother deste ano”. E não é por isso, no fim das contas, que tantas pessoas abdicam de qualquer pudor ou senso de ridículo?
Veredito: se você não se incomoda com violência gráfica, Dead Set é uma das melhores opções disponíveis.
“Zombieland’ me lembrou tremendamente a série, mas enqto essa trata tudo com humor, “DS” é drama.
Concordo ctg, as cenas são pilhantes e tu precisa de folego, embora os eppys sejam de pouca duração.
By the way, sobre a crueza das cenas, uma em especial me chocou: os BBBs, olhando do alto do terraço p/ os zumbis.
Eles realmente estavam isolados… sem cameras e sem futuro glamouroso.
Sarcasmo, eles são os últimos seres humanos e por algum tempo esses BBBs foram os representantes de nossa raça…afff!
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