
Como já publiquei aqui no blog alguns meses atrás (e vocês podem ler aqui), em breve embarcarei para a Austrália. Quando eu falei sobre o assunto anteriormente, o pedido de visto ainda estava por ser feito; agora, toda a burocracia está acabada. O visto foi concedido, a matrícula no curso está efetuada, as taxas foram pagas, passagens estão compradas. Em poucos dias, deixo o Brasil pela primeira vez. Ou quase, já que conheço Paraguai e Argentina na região da fronteira com Foz do Iguaçu, onde morei por alguns anos. Mas agora é diferente, não é um passeio até o outro lado de uma ponte. O curso que vou fazer levará dois anos, e é possível que eu não volte ao Brasil nesse período, nem para passar férias, Natal ou ano-novo. É uma empreitada diferente.
Notei que o assunto gera bastante interesse, muita gente faz perguntas, demonstra vontade de eventualmente fazer o mesmo ou compartilha as estórias de quando esteve em situação semelhante. Pensei então em começar eu mesmo a dividir com vocês, leitores, o longo processo que me trouxe até aqui, às vésperas de pegar um avião para o outro lado do mundo. As duas perguntas feitas com mais frequência (e que têm certa semelhança entre si) são de onde veio a ideia e se a decisão foi súbita. Vamos respondê-las. Quando foi que me ocorreu pela primeira vez sair do país é difícil dizer. Foi em algum momento da década de 1990, na qual dois fatores principais se fizeram sentir. Um deles foi ter os primeiros amigos e conhecidos que viajaram para fora. Até meados dos anos 90, turismo internacional era virtualmente impraticável para pessoas comuns; mas com o plano Real e a paridade cambial do início do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso a situação mudou, e famílias de classe média começaram a mandar filhos para curtas temporadas fora do país, em especial na Disney World. Não era o caso da nossa família (até porque somos três irmãos, e se um fosse os outros dois teriam que ir também, mais cedo ou mais tarde). Sinceramente, eu costumava estar tão ocupado jogando futebol com a gurizada do condomínio onde morava que não senti tanta falta assim de viajar, na época. O outro fator foi que nesse período realizei meu curso de inglês. Além de ter desenvolvido verdadeira paixão pela língua, passei a conhecer certos aspectos da cultura de países anglófonos (majoritariamente dos Estados Unidos). Ao longo dos quatro anos e meio de duração do curso, passei a considerar que, de certa forma, viajar para fora do país se tornaria uma realidade para mim naturalmente, mais cedo ou mais tarde.
Depois vieram Porto Alegre, vestibular, faculdade, novos amigos, provas, festas, alegrias, decepções, e a ideia de sair do país ficou não em segundo, mas possivelmente em quarto ou quinto plano. Saindo da graduação, fui direto para o mestrado, e entre os alunos e professores do departamento de pós-graduação conheci mais pessoas que haviam morado fora – e também algumas que foram para fora durante o período em que estive cursando mestrado. O sonho de morar fora voltou à minha mente, mas desta vez eu não quis me afastar da linha planejada desde a época de faculdade. Mantive o foco no Brasil. Concluído o mestrado, veio o primeiro emprego, o segundo, a sensação de estar fazendo as coisas apenas por dinheiro, uma certa inquietação, busca por um novo desafio, algo que me motivasse.
Surgiu a oportunidade de embarcar em uma aventura. Não a viagem, não ainda. Passei a dar aulas de inglês. Esta foi a decisão que me colocou no caminho que me trouxe até aqui. Dentre as pessoas que lecionam língua inglesa, a quantidade de ex-intercambistas é elevada. Conheci muita gente que havia estado recentemente fora do país; os que nunca tinham saído, como eu, ficavam com vontade só por ouvir as estórias. Os que contavam as estórias demonstravam claramente que gostariam de experimentar aquilo tudo de novo. Não poderia haver motivação mais sincera. Além disso, as aulas de inglês me propiciaram praticar a língua diariamente, tanto em termos de fala como de leitura, escrita, gramática, etc. Finalmente, depois de tantas vezes ter considerado a possibilidade, finalmente senti que estava pronto para levar a cabo a ideia de viajar. Eu já havia estado casualmente em uma agência de intercâmbio apenas para ter uma primeira noção do funcionamento (e dos custos) do processo, quando uma amiga, a Fernanda, anunciou que ia para Sydney no início de 2011 – isso em fins de 2010. Estávamos em um restaurante e eu, na hora, perguntei se ela queria companhia.
Então, para responder à segunda pergunta, se a decisão foi súbita: pode parecer que sim, mas não. Um empurrão foi necessário para tornar oficial, mas a decisão se formou ao longo de meses, baseada em uma vontade de anos. Aconteceu que, pela proximidade das datas, não pude acompanhar a Fernanda, mas já no primeiro semestre de 2011 passei a me informar mais a fundo sobre o intercâmbio. Só não viajei mais cedo porque optei por um curso de engenharia, que só tem início duas vezes por ano, e os trâmites para ser aceito em cursos assim são um pouco mais complexos – a maioria dos intercambistas vai para fora fazer cursos de inglês, que oferecem turmas novas a cada semana e cujas exigências são menores. E eu gosto de fazer as coisas de forma planejada – e que me permita controlar os gastos, embora a imprevista alta do dólar tenha me acertado em cheio. Nesse período em que estive planejando a viagem, ainda outra amiga minha, a Vanessa, embarcou também para Sydney, e isso também serviu como motivação. A ideia de pertencer a um grupo de pessoas pode ser bastante forte na hora de confrontar o custo de viajar com os benefícios da jornada. E, acredite, ao fazer um intercâmbio você passará a fazer parte de um grupo. Através de amigos, já conheci outras duas pessoas com o mesmo destino que eu; um, na verdade, já está lá. O outro embarca quase no mesmo dia que eu. Do outro lado do mundo, sim; sozinho, tudo leva a crer que não.
Por hoje, acho que já falei bastante. Gostaria de dizer que o título de “diário” é meramente ilustrativo, não garanto que vá escrever todos os dias sobre o assunto, mas ainda tenho bastante o que compartilhar com vocês. O próximo texto será sobre a escolha do país. Abraços, e até a próxima.
Mais textos da série:
Vou para a Austrália
Diário de um Intercâmbio – pt 2: a escolha do país
Diário de um Intercâmbio – pt 3: a escolha da agência