Primeiro filme dirigido pelo italiano Dario Argento, que posteriormente conquistaria uma legião de fãs com seus mais famosos Prelúdio para Matar (Profondo rosso, 1975) e Suspiria (idem, 1977), O Pássaro das Plumas de Cristal é um exemplo claríssimo do que o subgênero giallo oferece. Basta olhar a sinopse: escritor americano morando na Itália testemunha uma tentativa de assassinato, cometida por maníaco que vem aterrorizando a cidade. Intrigado pela impressão de ter visto um detalhe importante, mas que não consegue identificar posteriormente, passa a investigar os crimes do maníaco e expõe a si mesmo e àqueles que o cercam à brutalidade do assassino.
O filme em questão tem duas vantagens em relação à maioria dos giallo a que assisti: ele é um pouco mais antigo – e, sendo o primeiro trabalho de Argento, não pode ser acusado de ser repetição de uma fórmula – e consegue ver a si mesmo como um filme levemente absurdo e encarar isso com bom humor. Neste segundo aspecto, uma das cenas iniciais, a primeira conversa entre o jornalista citado e sua namorada, estabelece o fato do filme abraçar o absurdo. Um dos principais pecados do giallo em geral é exatamente a falta de competência das tramas, e quando um filme cuja trama tem buracos enormes se leva a série demais, o fracasso é quase garantido (e digo fracasso em termos artísticos, já que o fraquíssimo Jogos Mortais, por exemplo, fez sucesso com boa parte do público, apesar de a trama ser um festival de falta de sentido).
Espere de O Pássaro das Plumas de Cristal o básico do subgênero: vítimas mulheres (e a inevitável cena da donzela em perigo tendo um ataque de pânico e gritando até perder a voz); a identidade do assassino revelada apenas no desfecho; cenas bizarras envolvendo animais; violência gráfica, porém estilizada; Deux ex-machina; nudez gratuita; entre outros fatores. A influência do cinema americano sobre o italiano fica bem representada na figura do personagem principal.
No fim das contas, esta obra de estreia de Dario Argento é um bom filme, e isso de alguém que não é fã de giallo. De uma certa forma, fica em pé de igualdade com o idolatrado Prelúdio para Matar: este último é bem mais autoral, tem cenas mais vivas, mais fortes, mas deixa a desejar em termos narrativos; O Pássaro das Plumas de Cristal tem menos arroubos, mas a narrativa é mais coesa (embora não esteja de todo salva de algumas bobagens). Ambos os filmes atestam os defeitos e, mais ainda, as qualidades de Argento na direção.