Todo mundo já disse que o show de Paul McCartney que aconteceu ontem, 7 de Novembro de 2010, no estádio Beira-Rio, foi o maior da história da cidade. E dentro de um universo subjetivo como o dessas escolhas de maior, melhor, etc… nada pode chegar mais perto de ser um fato. Entretanto, dizer isso não me parece expressar realmente a importância do que se passou. Na volta do show, um grande amigo me cobrou: “quero ver o post no blog, hein”. Pensei bastante no que eu poderia escrever aqui que fosse digno da grandeza do evento, e cheguei à conclusão de que a resposta é: nada. Mas vou tentar de qualquer forma, porque, assim como Paul McCartney, eu sou gaúcho!
Vídeo postado no Youtube por anamercio
Acho que vale começar explicando que esse mesmo amigo e eu vínhamos salivando já fazia muito tempo por um show do Macca. Cada boato que era lançado alimentava o sonho de presenciar a apresentação da maior lenda viva da música. Mas chegamos ao ponto em que estávamos nos convencendo da necessidade de sair do Brasil, custasse o que custasse, para realizar esse sonho. Até que, subitamente, veio a notícia de que o ídolo se apresentaria aqui, na nossa cidade. De lá para cá, mesmo com a proximidade do show, persistia o ar surreal da situação. Isso mudou definitivamente quando eu sai de casa em direção ao estádio, logo após o almoço de domingo. Enquanto caminhava pela rua, percebi que só voltaria para casa depois de ter visto Paul McCartney.
Mas enfim, vamos ao show, que é o que importa. Apesar de eu gostar de Venus & Mars e de Rock Show, o início da apresentação foi mais um momento de absorver a presença do mito do que de propriamente curtir as canções. Posso dizer que a explosão veio mesmo com Jet, cantada em altos brados e pulando bastante. A seguir, a primeira canção dos Beatles da noite, All My Loving, agitou todo mundo. Sem exagero, não vi ninguém parado, quem não cantava, dançava; quem não dançava, pulava; e tinha gente que fazia tudo ao mesmo tempo. Letting Go veio acalmar os ânimos e foi o tempo certo de recarregar as baterias, porque na sequência veio um rock comparável a poucos na história: Drive My Car. A seguir, Highway, do projeto The Fireman, e Let Me Roll It, uma das minhas preferidas da fase pós-Beatles. The Long and Winding Road, Nineteen Hundred and Eighty Five, Let ‘Em In e My Love (e aqui todo mundo já sabe que ele falou, em português “eu escrevi essa música para minha gatinha Linda, mas hoje ela é dedicada a todos os namorados). Veio I’ve Just Seen a Face, e as primeiras lágrimas quase escaparam dos olhos, com lembranças de um amor que eu tive no passado. A partir daí, a emoção de ouvir cada canção foi se misturando com todos os momentos importantes da minha vida que estão, de alguma forma, ligados aos Beatles. Contribuiu o fato de que as três músicas seguintes foram And I Love Her, Blackbird e Here Today, todas elas capazes de derreter corações de pedra.
Dance Tonight, uma das menos preferidas, foi executada de uma maneira tão gostosa que acabou sendo um dos melhores momentos do show. Não, minto, foi um momento tão bom quanto quase todos os outros. Vale o mesmo para Mrs. Vanderbilt. E aí começou outro momento emoção pura: Eleanor Rigby, uma das composições mais tocantes do rock, deu aquela balançada, e aí veio nada menos que Something. Com as imagens de George ao fundo, não deu mais para segurar as lágrimas. Mais memórias vieram à tona, tantas que eu quase não me lembro de Sing the Changes. Quando começou Band on the Run, me veio a lembrança de pegar os Anthology do pai e ir pulando as faixas para ouvir só a meia duzia que eu curtia (não sei que relação eu fiz entre uma coisa e outra, mas não me importa) . A percepção do tamanho do caminho que eu percorri na vida entre um momento e outro arrancou mais lágrimas, e muitas. Ainda bem que vieram Ob-la-di, Ob-la-da, Back in the USSR, I’ve Got a Feeling, Paperback Writer, a dobradinha A Day in the Life (com um espetáculo magnífico de imagens no telão) e Give Peace a Chance.
Então ele foi para o piano. Uma das primeiras músicas que me fez chorar na vida foi Let it Be, e até hoje é uma das que mais me atingem em nível pessoal. Quando vieram os primeiros acordes, eu baixei a cabeça e aí sim, chorei mesmo. Não foram algumas lágrimas, chorei como uma criança. Foi o momento em que eu realmente internalizei a ideia de que eu tinha vivido para ver aquilo. Foi um dos momentos mais intensos e mais puros que eu já experimentei, realmente transcendental. Quase poderia dizer que o restante do show foi apenas complemento, mas não é possível dizer uma coisa dessas do que o Paul nos apresentou na sequência. Para encerrar a parte principal do show, uma ótima apresentação de Live and Let Die, daquelas de tirar todo mundo do chão. Aparece no palco o pianinho, Paul vai até ele, senta-se e entoa a canção mais popular da história. Se você não sabe que é Hey Jude, pare de ler agora. Cinquenta mil pessoas se juntaram para cantar uma canção que, por incrível que pareça, foi lançada como lado B. Isso coloca o sucesso de quase qualquer outro artista em perspectiva. Mas estamos falando de Paul McCartney, e Paul McCartney fez uma multidão irmanar-se entoando o famoso “na na na”. É para nunca mais esquecer.
Depois de um curto intervalo, veio o primeiro bis, um presentão para os fãs dos Beatles, com Day Tripper, Lady Madonna e Get Back. Mais uma vez Paul e sua banda saem do palco, e eu digo para um amigo: “já que tem que ser só mais três músicas, que sejam Yesterday, Helter Skelter e Sgt. Pepper’s/The End” (sim, eu sei que são quatro músicas, mas as duas últimas já contam como uma só, ele toca as duas sempre juntas, hehehe). Dito e feito. Veio Yesterday, e mais uma memória: meu pai conta que o meu avô costumava falar mal dos Beatles, mas um dia o pai o flagrou assobiando Yesterday. Mas nessa hora nem lágrimas havia mais, e só restava curtir ao máximo o pouco que restava do show. Quando ele perguntou se a platéia queria rock, eu já me preparei, e quando ele chamou Helter Skelter, me acabei pulando e gritando. Outro grande momento pelo qual eu vou ser grato até o último dia da minha vida. E veio o excelente “combo” final, para mandar todos para casa com a certeza de que nunca, por mais que vivamos, veremos outro show como este. Não precisava de mais nada, mas fomos brindados ainda com uma chuva de papel picado nas cores verde e amarela, que serviu como homenagem e ainda nos distraiu do fato de que Paul havia ido embora. O evento havia terminado, restavam as emoções e as memórias.
Talvez seja importante ressaltar que a produção do show foi fantástica, o som era cristalino, era possível ouvir tudo, os telões nas laterais do palco tinham resolução incrível, enfim, em termos técnicos, irrepreensível. A banda que acompanha o Paul é fenomenal, talvez os melhores músicos com os quais ele já tocou. Mas acho que tudo isso era de se esperar. O que não havia como antecipar, por mais que eu tenha tentado, eram os sentimentos que vieram à tona ao longo das três horas de espetáculo. Pode parecer bobagem para um ou outro desavisado, mas foi uma experiência daquelas que mudam a pessoa. Um momento em que o cara se reconcilia com seu passado e se sente feliz por estar onde está no presente.
E eu não tenho nenhuma dúvida, nenhuma mesmo: no meu futuro haverá momentos para os quais a trilha sonora será assinada por Sir Paul McCartney.
Thank you, Paul.
Adendos
Set list
1. Venus and Mars / Rockshow
2. Jet
3. All My Loving
4. Letting Go
5. Drive My Car
6. Highway
7. Let Me Roll It
8. The Long And Winding Road
9. Nineteen Hundred and Eighty Five
10. Let ‘Em In
11. My Love
12. I’ve Just Seen A Face
13. And I Love Her
14. Blackbird
15. Here Today
16. Dance Tonight
17. Mrs Vandebilt
18. Eleanor Rigby
19. Ram On
20. Something
21. Sing The Changes
22. Band on the Run
23. Ob-La-Di, Ob-La-Da
24. Back In The USSR
25. I’ve Got A Feeling
26. Paperback Writer
27. A Day In The Life / Give Peace A Chance
28. Let It Be
29. Live And Let Die
30. Hey Jude
Primeiro bis
31. Day Tripper
32. Lady Madonna
33. Get Back
Segundo bis
34. Yesterday
35. Helter Skelter
36. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band / The End
Let it Be/Live and Let Die
Vídeo postado no Youtube por Rafaeldk
Parabéns teu comentário me emocionou e fez juz ao nosso ìdolo..
“Um momento em que o cara se reconcilia com seu passado e se sente feliz por estar onde está no presente.”
Sábias palavras!!
Ainda bem que não fui…pois não sei se resistiria à tantas emoções…
Eternamente Beatlemaníaca…
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Olha você me fez chorar, sua narrativa é tão cheia de emoções comuns para mim que é como sua vida se msiturasse na minha e na de Paul McCartney…
Assim como você senti essas emoções num show dele e voltarei a sentir dia 22/11 em SP; assim como seu pai meu pai tinha um pai que não aprovava os Beatles e que um dia se rendeu a Yestarday e para mim foi uma pequena vitória.
Quando ele foi ao Maracanã não pude ir, fiquei arrasada…então, um dia, assistindo a um dvd dele, pensei eu tenho que ir num show dele. Nesse instante, penso, que um um anjo passou e disse Amém, porque em 2005, eu que nunca havia feito uma viagem ao exterior, ganhei do meu filho mais velho para ver o show em NY no Madson Square Gardem, até hoje eu não consigo traduzir em palavras tudo que vi e senti a não ser que foi mágico…
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Marcelo, obrigada por compartilhar este momento especial conosco!
Meus olhos marejaram só de ver o primeiro vídeo, e seu texto fluindo gostoso de ler, emocionando, e aí você fala de Let it Be, desabei, essa música me trouxe da infância para adolescência, guri, meu primeiro beijo , morri x_x.
Como dá p perceber não sou jovenzinha, mas o que conta é a alma, é o que dizem.
Estarei no Morumbi dia 21, se pudesse ($$) estaria dia 22 também! Eu e dois sobrinhos, 13 e 18 anos, meus companheiros nesse dia que será inesquecível e se juntará na minha memória ao show de Sinatra que assisti no Maracanã em 1980.
“….Let it be, let it be. There will be no sorrow, let it be.
Let it be, let it be, Let it be, let it be.
Whisper words of wisdom, let it be…”
Seja Feliz!!! Paul & Beatles forever!
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